ATA DA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 18-11-2003.

 


Aos dezoito dias do mês de novembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e dezoito minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Nereu Lima, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo n° 183/92 (Processo n° 2452/92), de autoria do ex-Vereador Clóvis Brum. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Heron Nunes Estrela, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Élcio Pinheiro de Castro, representante do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; o Senhor Vital Moacir da Silveira, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB - Seccional do Rio Grande do Sul, em exercício; o Senhor Marcus Flavius de Los Santos, Presidente do Sindicato dos Advogados no Rio Grande do Sul; o Primeiro-Tenente Rafael Dallemolle, representante do 5º Comando Aéreo Regional - COMAR; o Senhor Nereu Lima, Homenageado; o Vereador Raul Carrion, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Também, foi registrada a presença do Senhor Jarbas Lima. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra ao Senhor Clóvis Brum que, na condição de proponente da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Nereu Lima, saudou o homenageado. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à presente homenagem, enviada pelo Senhor Edson Silva e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Raul Carrion, em nome das Bancadas do PCdoB, PP, PSDB, PSB e PPS, historiou a vida do Senhor Nereu Lima, ressaltando a trajetória jurídica do homenageado e destacando a participação em manifestações pela abertura política e pela democratização do País, realizadas durante o período da História Contemporânea em que o Brasil foi governado por militares. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, saudou a cidade de Lagoa Vermelha, município de origem do Homenageado, e explanou sua admiração ao trabalho desenvolvido pelo Senhor Nereu Lima. Nesse contexto, referiu-se a Sua Senhoria como símbolo do bom exercício da advocacia no Rio Grande do Sul. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, lembrou o início da carreira política de Sua Excelência e do Senhor Nereu Lima, discorrendo sobre a trajetória política do Homenageado em Porto Alegre. Ainda, mencionou a importância do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, citando nomes de personalidades que também foram agraciadas com essa honraria. O Vereador Juarez Pinheiro, em nome da Bancada do PT, parabenizou o Homenageado,  lembrando  aspectos relativos ao exercício de mandato na Câmara dos Deputados por parte do Senhor Nereu Lima. Nesse sentido, teceu considerações a respeito da importância do Homenageado para a história política do Rio Grande do Sul. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, mencionou a Exposição de Motivos elaborada pelo ex-Vereador Clóvis Brum em mil novecentos e noventa e dois, para fundamentar o Projeto de Lei do Legislativo n° 183/92, através do qual foi proposta a outorga de Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Nereu Lima. Em prosseguimento, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Haroldo de Souza, em nome da Bancada do PMDB, discorreu sobre a vida pessoal e profissional do Homenageado, destacando a formação de Sua Senhoria em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – e a condição de professor de Direito Constitucional, de Direito Processual Penal e de coordenador de estágio profissional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Após, o Senhor Presidente convidou os Senhores Clóvis Brum, Heron Nunes Estrela e Nereu Lima Filho a procederem à entrega do Diploma e da Medalha alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Nereu Lima, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e cinqüenta e sete minutos, convidando os presentes para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Raul Carrion, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Raul Carrion, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib - 15h18min): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Dr. Nereu Lima.

Compõem a Mesa o nosso querido homenageado, jurista Nereu Lima; Dr. Heron Nunes Estrela, representando o Exmo. Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Dr. João Verle; Dr. Élcio Pinheiro de Castro, representando o Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Dr. Vital Moacir da Silveira, Presidente em exercício da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB; Dr. Marcus Flavius de Los Santos, Presidente do Sindicato dos Advogados do Rio Grande do Sul;  1º Tenente Rafael Dallemolle, representante do 5ª COMAR.

Registro a presença do Dr. Jarbas Lima, e, na pessoa do Dr. Jarbas Lima, irmão do nosso homenageado, saúdo todos os seus familiares.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

A cerimônia de hoje é para que se homenageie uma figura que está marcando sua passagem no tempo - porque o tempo não passa - pela sua dedicação ao trabalho, pelo brilhantismo com que exerce a sua profissão, que, no meu entendimento, é uma das mais difíceis profissões, porque advogado nasce advogado, não aprende a ser, não adianta conhecer todos os códigos.

Neste momento convido a fazer uso da palavra o ex-Vereador da Câmara Municipal de Porto Alegre, por mais de uma legislatura, Clóvis Brum.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente da Câmara, Ver. João Dib; caro professor e ilustre cidadão de  Porto Alegre homenageado desta Casa e da Cidade, Dr. Nereu Lima; Exmo. Sr. representante do Prefeito Municipal de  Porto Alegre, Dr. Heron Nunes Estrela; Exmo. Sr. representante do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Dr. Élcio Pinheiro de Castro; Sr. Presidente  em exercício da Ordem dos Advogados do Brasil,  Dr. Vital Moacir da Silveira; Sr. Presidente do Sindicato dos Advogados do Rio Grande do Sul, Dr. Marcus Flavius de Los Santos; Exmo. Sr. representante do 5º COMAR, Tenente Rafael Dallemolle; minhas senhoras e meus senhores; queria também registrar, a exemplo do Ver. João Dib, a presença entre nós do ex-Deputado Federal, irmão do homenageado, que nos honra com a sua presença, Dr. Jarbas Lima;  nele estendemos os cumprimentos a todos os seus familiares e a todos aqueles que vieram trazer o seu abraço fraterno ao homenageado. Costuma-se dizer, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que ao início de uma atividade pode-se e deve-se convocar os jovens. Mas acho que o nosso homenageado, a cada dia que passa, renova a sua missão e o seu desejo. Por isso ouso dizer que a carruagem, Dr. Nereu Lima, engalanada de triunfos, na qual o senhor percorre com tanta magnitude, com tanto êxito a brilhante carreira, essa mesma carruagem sonoramente o convoca para a vida que frementemente lhe arrasta na sua atividade em meio à sua cidade, em meio ao seu Estado e ao seu País.

Dr. Nereu Lima, quis a bondade dos Vereadores, na oportunidade em que apresentei a proposição, prestar a V. Exa. esta homenagem, a homenagem de Porto Alegre – por uma falha de memória quase digo Uruguaiana, meu coronel Pedro Américo... É por isso que se costuma dizer que, de vez em quando, as pessoas devem perdoar aqueles que falam, porque a alma da gente às vezes voa muito mais rápido do que se pode imaginar. Mas Nereu não é só de Porto Alegre, Nereu é do Rio Grande, Nereu é o professor, é aquele homem que, na faculdade, prepara o novo advogado. Nereu é aquele que comandou os seus colegas, como Presidente da OAB; Nereu é o tipo de pessoa que se pode dizer que há uma em cada século; é um advogado exemplar, é um professor  exemplar,  é um amigo dedicado, é um merecedor dessa honraria porque tem serviços prestados a esta Cidade e a este Estado.

Doutor Nereu Lima, a homenagem, é bem verdade,  partiu da iniciativa deste seu amigo, mas a grande homenagem foi a votação do Plenário desta Casa, que, depois de quase 13 anos de ausência, nos acolhe com seu carinho pela segunda vez em menos de 15 dias – e eu acho que vou ter de trabalhar nesta Casa, Ver. Pedro Américo Leal. Estou muito contente com esta oportunidade de poder abraçar os Vereadores, aqueles mais antigos que comigo militaram, de cumprimentar e homenagear o Dr. Nereu Lima e a Mesa que nos honra com a sua presença, e, na figura do Presidente da OAB e do Sindicato, cumprimentar a todos dizendo que o Dr. Nereu Lima fez por merecer, não pediu; foi a gratidão mais singela que Porto Alegre poderia tributar a ele - e foi o que fizemos nesta tarde.  Meus parabéns, Dr. Nereu Lima! (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Desejo ler uma mensagem, enviada pelo amigo do nosso homenageado, Dr. Edson Silva. Diz ele (Lê.):

“A outorga a ti do título honorífico de ‘Cidadão de Porto Alegre’ é definitivamente merecida, por tua capacidade profissional e pela qualidade dos serviços que prestas, enaltecendo ainda mais o nome da cidade de Porto Alegre. Que dizer da tua condição de humanista e democrata convicto.

'É de Porto Alegre o advogado Nereu Lima, não é? Ele é um profissional de mãos-cheias, um bom papo, boa cabeça e um excelente sujeito!' - diria alguém de fora, que, de alguma forma, privou de tua convivência.

Fiquei exultante com a titulação. O mínimo que devo fazer é saudar fraternalmente o amigo! Edson Silva.”

O Ver. Raul Carrion está com a palavra e falará em nome das Bancadas do PCdoB, do PP, do PSDB, do PSB e do PPS.

 

O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Prezado ex-Vereador e sempre Vereador Clóvis Brum, que num momento de inspiração nos permitiu ter a oportunidade, neste dia de hoje, de homenagear figura tão importante do nosso Estado e da nossa Cidade. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Destaco, também, aqui, a presença do Dr. Jarbas Lima, ex-Deputado, sempre Deputado, lutador pela soberania nacional, pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores do nosso Brasil, que muito honrou o nosso Estado na Câmara Federal.

É com imensa satisfação que a Câmara Municipal faz a entrega, no dia de hoje, do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Nereu Lima.

Este Título, proposto pelo Ver. Clóvis Brum, e aprovado por esta Casa em 1993, até hoje não havido sido entregue, talvez, porque – parafraseando o poeta – “Não faz mal que amanheça devagar; os frutos não têm pressa e sabem que a vagareza dos minutos adoça mais a primavera por chegar. “

Coube-me assim a honra, com a concordância do homenageado e do proponente, de requerer esta Sessão Solene de outorga do referido Título ao prezado amigo Nereu Lima.

Nereu Lima nasceu em 28 de janeiro de 1946, em Lagoa Vermelha. Trinta e poucos dias depois de mim. Concluiu o Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no ano de 1969.

Desde então dedicou a sua vida ao Direito e à defesa da democracia e da cidadania. Lecionou por várias gerações Direito Constitucional e Direito Penal. Professor da Cadeira de Estágio Profissional na UNISINOS, foi escolhido Paraninfo das turmas de 1974 e 1978 em reconhecimento ao seu labor e competência. Na UFRGS, tornou-se Professor concursado da Cadeira de Direito Penal. Também lecionou na Escola Penitenciária do Rio Grande do Sul.

Mas, a intensa atuação de Nereu Lima não se circunscreve à sua atividade profissional ou acadêmica. Destacou-se por sua intensa participação nas entidades representativas dos advogados e na luta pela redemocratização do País. Atuou ativamente no Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul - IARGS -, onde foi membro da sua diretoria no biênio 1979/80. Da mesma forma, foi membro efetivo do Instituto dos Advogados do Brasil.

Nereu Lima é referência na representação política e na defesa da categoria dos advogados. Conselheiro Substituto da OAB em 1978, foi eleito Conselheiro Titular para o biênio de 1979/80. Nos períodos de 1981/82 e 1983/84, foi eleito 1.º Secretário da OAB/RS. Chegou à Presidência da entidade máxima dos advogados gaúchos no mandato iniciado em 1991 e concluído em 1993. Também foi Conselheiro Federal da OAB Rio Grande do Sul.

Democrata convicto, defensor dos direitos sociais e políticos do nosso povo, nunca vacilou em ajudar os perseguidos pelo regime militar. Foi o relator da Comissão Especial da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Rio Grande do Sul, que em plena ditadura militar denunciou o seqüestro do casal uruguaio Lilian Celiberti e Universindo Diaz, caso que teve repercussão nacional e internacional.

Mesmo sem ser ligado ao Partido Comunista do Brasil, aceitou sem vacilar ser o fiador da sede na então "Comissão Provisória pela Legalidade do PCdoB", na Rua Coronel Vicente, ainda durante o regime militar.

Seu nome destaca-se não apenas como o de um profissional do Direito, competente e respeitado, mas também como de um lutador em defesa da liberdade e da justiça social. Defendendo presos políticos e participando de movimentos democráticos mais decisivos da nossa Pátria, como a campanha da Constituinte de 88, da luta pela Anistia, das Diretas Já, do Impeachment de Collor, e de tantas outras.

Por tudo isso, a vida de Nereu Lima está intrinsecamente vinculada à luta pela soberania nacional, pela democracia e por uma sociedade mais justa, mais igual e mais fraterna.

Porto Alegre, Nereu, orgulha-se em tê-lo entre os seus cidadãos! E eu, em tê-lo entre os meus amigos! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Elói Guimarães está com a palavra, pelo seu Partido, o Partido Trabalhista Brasileiro.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Irmão do homenageado, ex-Deputado Jarbas Lima, poderíamos dizer aqui: paradigma de representante gaúcho no Parlamento Nacional; também o irmão, o Dr. Alceu Lima, ex-Vereador Raul Casa; professora Iolanda, representando aqui o Secretário de Educação do Estado, Ver. José Fortunati; o casal de amigos: Salim Ceci e esposa, enfim, tantas pessoas, advogados, proponente desta homenagem, ex-Vereador Clóvis Brum; amigos e pessoas que honram esta Casa com suas presenças.

Quem bebe a água da lagoa vermelha, purifica a alma, o espírito. E faço essa referência em homenagem àquela histórica Cidade, onde viu nascer a família dos Lima, onde viu nascer o nosso Nereu Lima.

Vejo entrar aqui na Casa o Presidente Valmir Batista, que está em licença porque é candidato à Presidência da OAB.

Mas, eu dizia que aquele que bebe as águas da lagoa vermelha purifica a alma, purifica o pensamento, e, forma, por assim dizer, uma pessoa que tem as características humanas, sociais, políticas, jurídicas do nosso homenageado Nereu Lima. Eu tenho uma admiração pessoal e profissional pelo homenageado e, quando olho para ele, me vem à mente a própria advocacia, o profissional exemplar da advocacia, o homem combativo da advocacia, atuante, brilhante, professor, jurista, criminalista. Ainda, me vem à mente, exatamente configurada essa instituição, esse múnus público, que é a advocacia.

E, hoje, estamos homenageando, ex-Presidente Magalhães, a advocacia, sem a qual não se tem justiça. Se há uma instituição que integra e dá o suporte à própria justiça, é a advocacia. O próprio Ministério, que é o guardião da lei, que tem responsabilidades importantes, pode ser dispensado, porque pode-se nomear um advogado para fazer o papel da acusação. Então, não há justiça, nessa estruturação que a civilização fez, sem advocacia, pois ela é fundamental, é essencial. Não há, também, democracia, Professor Nereu Lima, sem advocacia, porque um fundamento, a espinha dorsal da democracia, é a liberdade, e quem busca a liberdade objetiva nos pretórios judiciais é o advogado, é o profissional do direito. Então, neste momento importante em que a Casa homenageia um advogado símbolo,  eu me sinto advogado representado na figura de Nereu Lima pela sua retidão de caráter, de honorabilidade, pela sua retidão profissional.

Hoje, Ver. Raul Carrion, que propõe a Sessão, porque a homenagem já havia sido proposta pelo Ver. Clóvis Brum, que teve meu voto, porque eu venho há seis mandatos aqui nesta Casa. Esta homenagem é significativa e importante para Porto Alegre, porque estamos homenageando o advogado, que poderíamos dizer, padrão, símbolo, paradigma e está-se homenageando a advocacia como instituição básica e fundamental da justiça, da liberdade e da democracia.

Nereu Lima, quando fala um Vereador na tribuna, fala a Cidade, quando falam os Vereadores, está falando a Cidade, então, é a Cidade que quer te agradecer e o faz pela representação pluripartidária desta Casa. Aqui, nesta Casa, reside a síntese ideológica de Porto Alegre, então, é a Cidade que, por nosso intermédio, quer te agradecer e é a Cidade, por nosso intermédio, que está a te conceder o Título de Cidadão pelo muito que tu fizeste pela liberdade. Não vamos ficar - o meu tempo é vencido - aqui a dizer da tua luta, de todo um passado nos momentos difíceis, quando a liberdade estava à sombra, quando a democracia periclitava, tu estavas lá na frente, defendendo a liberdade e os perseguidos.

Fica aqui, senhores e senhoras, o agradecimento da cidade de Porto Alegre a alguém que dedicou e dedica a sua vida à busca do que há de mais fundamental ao ser humano, que é a liberdade. Então, é uma Sessão, também, para a liberdade, é uma Sessão para a democracia, é uma Sessão para a advocacia, que tem, no centro desse arcabouço, essa figura magnífica, notável, do profissional, do professor que é o nosso querido amigo, brilhante advogado, brilhante causídico, Nereu Lima.

Em nome do Partido Trabalhista Brasileiro, queremos reiterar a nossa admiração e profundo respeito pela ação que Vossa Senhoria desenvolve não só como homem político, mas, especialmente como profissional na defesa dos interesses maiores da liberdade, enfim, na defesa do direito, sem o que não há sociedade, não há liberdade, não há a própria vida. Obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Mesa registra a presença do Ver. Pedro Américo Leal.

O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará em nome do Partido da Frente Liberal.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em verdade, Deputado Jarbas Lima, existem algumas coisas que a gente aprende no tempo e das quais a gente não declina. Há muito tempo, mais de 30 anos, quando eu me arriscava nas primeiras eleições, eu recebi um conselho,  Ver. Isaac Ainhorn, de uma pessoa cujo nome eu não estou autorizado a revelar, que me disse que o meu discurso estava quase bom, que eu precisava decorá-lo e repeti-lo com muita intensidade porque variavam as platéias que o ouviam. É que, meus colegas Vereadores, especialmente aqueles que comigo convivem há mais tempo - como é o caso do meu ex-colega e grande amigo Raul Paulino Cagliare Casa, cuja presença na Casa me enche de alegria -, o Clóvis Brum já dizia o seguinte: que eu era muito repetitivo, que gostava muito de citar o Ortega y Gasset, e que, às vezes, Luis Felipe, por acaso eu citava Fernando Pessoa, dizendo que “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. O Nereu não se surpreenderia disso, porque meu contemporâneo – ele na Federal e eu na PUC - sabe que um homem, pelo qual eu tenho uma grande admiração, Paulo Cláudio Tovo, meu Paraninfo de 1969, concluiu o seu pronunciamento, na minha formatura, citando Fernando Pessoa com essa frase que eu acabo de enunciar.

E, nas circunstâncias  de que fala Ortega y Gasset, o Nereu está presente, porque, pela primeira vez, eu o vi, num lugar que seria futuramente o meu escritório na Galeria do Rosário, junto com seus colegas de turma, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, entre os quais eu lembro bem do Cícero Peretti, preparando um júri simulado que Paulo Cláudio  Tovo iria coordenar entre os alunos da PUC e os alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os seus paraninfados e os seus alunos de ambas as universidades. E a partir daquele momento, Valmir Batista, como as circunstâncias são boas, eu fui lentamente começando a conhecer essa figura de pequena estatura, mas de grande envergadura moral; desse vaqueano de Lagoa Vermelha que aportou aqui na capital do Estado do Rio Grande do Sul para fazer o seu curso de Direito, para se firmar como profissional que acredita no que faz, que faz com amor aquilo que realiza e que, sobretudo, tem, entre seus maiores defeitos, essa tendência insuperável de se jogar, de corpo e alma, na defesa das coisas em que acredita. Esse homem, com quem eu convivi belos dias em Capão da Canoa, que alegrava o nosso convívio durante aquelas nossas intermináveis discussões a respeito de qualquer assunto que a madrugada nos oferecesse.  Nereu, esse cidadão a quem eu me referi, o  Dr. Paulo Cláudio Tovo, é,  a partir de hoje, oficialmente, o teu colega de galeria. Nessa galeria,  há homens como Francisco Renan Proença, Luiz Fernando Cirne Lima,  Jorge  Gerdau Johanpeter,  Péricles de Freitas Druck,   José Portela Nunes,  Synval Guazzelli, também de Vacaria,  José Sperb Sanseverino,  João Paulo II, Miguel Angelo Proença, Ciro Martins. Nessa galeria, de vultos, de grandes empresários, de notáveis homens da cultura do Rio Grande,  está Paulo Cláudio Tovo, esse nosso paradigma. Esse homem, eu tenho certeza, te inspirou muito na tua performance profissional; homem comprometido com o Direito e com as coisas direitas; homem comprometido com a ciência jurídica e com a distribuição da justiça, por intermédio de uma vida exemplar que o credenciou a ser um Cidadão de Porto  Alegre. E tu, belo discípulo, segues os passos dele, e nos dão a oportunidade, por meio da sensibilidade do nosso ex-colega Clóvis Brum, de a Câmara Municipal te fazer justiça, te outorgando este Título de Cidadão de Porto Alegre o qual tu faz jus pela tua performance como profissional do Direito, como professor, como dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil da Secção do Rio Grande do Sul, militante da OAB nacional e, sobretudo, como cidadão responsável e responsabilizado com as coisas da sua época. Eu tenho o privilégio de ter contigo as mais históricas divergências, mas tenho também um privilégio maior ainda - Zé Távora, tu que me conheces da gloriosa UDN, aquela que nos ensinou que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Entre os privilégios que eu detenho do relacionamento de Nereu Lima com Reginaldo Pujol é o de, discordando dele, sempre convergir naquilo que tem sido paradigma para ele, num objetivo que eu persigo. Nós, por caminhos muitas vezes divergentes, porque nem todos os caminhos são para todos os caminhantes, buscamos sempre alcançar, de um modo ou de outro, a valorização profissional, Valmir. Essa valorização profissional pela qual tu tanto lutas e que me autoriza a votar em ti, de novo, para Presidente da OAB do Rio Grande do Sul. Isso tem sido uma constante na tua vida.

O Luiz Felipe Azevedo, quando me falou de ti, da tua transmutação, o nosso líder, dentro da categoria profissional, enfatizava esse particular. E mais, e mais do que a valorização profissional, a responsabilidade do profissional do Direito com a sociedade onde ele está inserido, da qual ele não pode se demitir. Tu, no teu caminho, eu no meu caminho, todos nós caminhando e convergindo nessa expectativa, numa Pátria livre, soberana, justa socialmente, economicamente livre e politicamente soberana, além de culturalmente desenvolvida.

Nereu, o Paulo Tovo já honrava a galeria dos cidadãos de Porto Alegre, agora tu complementas. Foste o meu professor, agora és meu colega. Muito obrigado, Nereu, por ter dado com o exemplo a oportunidade de Porto Alegre te apresentar com uma daquelas demonstrações claras de que aqui na Casa do Povo de Porto Alegre se faz justiça a quem se torna merecedor. E tu mereceste a outorga que, pela iniciativa do Clóvis Brum, Porto Alegre te oferece. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Juarez Pinheiro está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Saúdo ainda o Presidente da OAB, Valmir Martins Batista, a quem, com muita honra, elegi Presidente. Se, momentaneamente, não o acompanho, agora é uma mera fase da nossa Ordem. Tenho muito respeito por Vossa Senhoria e muito orgulho de ter elegido o senhor Presidente da Ordem.

A Bancada do Partido dos Trabalhadores nesta Casa é composta por dez Vereadores. Anteontem passou uma lista no sentido de que fosse designado quem teria a honra de representar o Partido  na homenagem ao Dr. Nereu Lima. Eu, que nunca peço para participar de Sessões Solenes – os Vereadores me conhecem; sabem que eu sou um dos que menos participa -, reivindiquei, de pronto, que fosse eu o representante do Partido dos Trabalhadores. Mas o meu Líder me informou que eu tinha uma outra tarefa partidária, que era importante, e não permitiu que eu colocasse o meu nome como o que representaria a Bancada do Partido dos Trabalhadores nesta homenagem. Eu teria, segundo ele, uma tarefa de ordem coletiva que superaria o anseio que eu tinha de homenagear um dos maiores advogados que esta terra já conseguiu construir.

Eu tive de me curvar - o Deputado Jarbas Lima sabe como são essas coisas  de  Bancada e de Liderança -; não participaria desta homenagem.

Mas, hoje - o Presidente sabe disso -, a atividade de que eu participaria não se realizou e, imediatamente, independentemente de meu Líder,  compareci a este plenário. E o fiz com muito orgulho. Peço ao nobre democrata, esse símbolo da advocacia gaúcha, que me perdoe se não pude preparar a minha intervenção à altura do que ele merece e da forma como o Partido dos Trabalhadores deveria homenageá-lo, mas eu soube há cinco minutos que seria eu quem aqui representaria o Partido dos Trabalhadores.

Queremos, neste momento, dizer que o Sr. Nicanor e a Dona Judith cumpriram a sua tarefa nesta vida. Se aquele ditado popular de que “o fruto não cai longe do pé” é verdadeiro, talvez poucas vezes isso se tenha repetido como no caso dessa querida família de Lagoa Vermelha, por ter dado a esta terra e a este País homens da expressão do homenageado, o amigo e grande advogado Nereu Lima e do Dep. Jarbas Lima.

Jamais vou esquecer, caro amigo e hoje homenageado Dr. Nereu, que o seu irmão, Deputado Federal por um Partido com uma ideologia oposta à minha, que, de uma forma injusta, por poucos votos deixava o seu último mandato na Câmara Federal, no último dia de seu mandato - no último dia na Câmara Federal -, encaminhou a este Vereador o material jurídico, doutrina, jurisprudência, para que este Vereador pudesse aqui, nesta Casa, concluir um dos processos mais difíceis por que esta Casa já passou, que foi a única vez em que um Parlamentar teve o seu mandato cassado. O Dep. Jarbas Lima - aproveito esta homenagem para prestar de público este agradecimento - tinha um trabalho maravilhoso que havia feito no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, e passou a este Vereador no último dia do seu mandato.

Pois é esta família que nós estamos hoje homenageando. É o homenageado, é o advogado, como já dito pelos Vereadores que me antecederam. E aqui os meus cumprimentos, tanto ao Ver. Clóvis Brum, que foi quem propôs, há anos, esta homenagem, como ao Ver. Carrion, que possibilitou, pelo seu mandato, a realização deste ato. Nós estamos homenageando o advogado de escol, símbolo da advocacia gaúcha, o jurista; estamos homenageando o nosso familiar, no caso de alguns; estamos homenageando o nosso amigo; estamos homenageando o professor de Direito Constitucional, o professor de Direito Penal; estamos homenageando uma das figuras de maior qualidade que esta Casa aqui já homenageou.

Se fôssemos – e eu não conhecia essa história, eu não sabia nem que o Dr. Nereu havia nascido em Lagoa Vermelha -, mas se cada um de nós fosse consultado, se qualquer cidadão deste Estado e desta Cidade fosse consultado sobre o Dr. Nereu,  saberia dizer algumas coisas: que ele é um democrata de escol, que é um grande jurista, que é alguém que tem uma coluna vertebral inquebrantável, que não tem dobradiças na coluna, que tem punho de ferro quando precisa ter punho de ferro, mas que tem uma imensa candura no seu coração.

O Dr. Nereu é um símbolo de maior que se possa ter, Dr. Valmir, caro Presidente, para nós, da Secção da OAB do Rio Grande do Sul. Eu dele me aproximei há um tempo por intermédio de uma figura maravilhosa, que todos os advogados e principalmente militantes da Ordem conhecem, o Dr. Orlando de Assis Corrêa, que, como ele, foi Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. E o Dr. Orlando, por quem eu tenho um carinho eterno, chamou-me e disse: “Juarez, venha cá, que temos um grande advogado para apoiar na OAB”. E, participando daquela eleição, depois o Dr. Nereu me honrou com a possibilidade de presidir uma Comissão Especial da nossa Ordem, Comissão Especial de Acompanhamento Legislativo. Na época, num fato inusitado, lembro bem - o Dr. Valmir era membro do Conselho - quando o Conselho tinha uma certa relutância em aprovar uma nota da Ordem que condenava o emendão do Collor que retirava direitos dos cidadãos, de uma forma absolutamente arbitrária e contra o Direito. E nessa dificuldade do Conselho, estávamos eu e o irmão do hoje Vereador Carrion que foi Diretor da Faculdade de Direito da UFRGS, e ele permitiu que nós fizéssemos uma nota que foi, inclusive, base para outras notas, e o que se viu depois é a absoluta correção do posicionamento desse democrata hoje homenageado, no sentido de que o País estava em mãos não muito boas e que precisava ter uma alteração no seu comando maior. Aquele episódio me marcou de forma profunda.

Eu quero, Sr. Presidente, como outros oradores se estenderam, estender-me também nesta fala um pouquinho mais para dizer que uma figura como Nereu Lima é, neste momento - ele que já foi importante na redemocratização do País, que foi importante no período das “Diretas Já”, como já dito, na questão da Constituinte, com a sua colaboração, na estruturação da nossa Seccional da Ordem -,  hoje, Nereu Lima, tu és muito mais importante ainda. Nós vivemos hoje, infelizmente, num mundo em que a lei de mercado, em que o poder econômico, caro Deputado Jarbas Lima, que sempre militou na área jurídica, que fez o Direito e que é um doutrinador -, nós estamos, hoje, infelizmente, submetidos a uma lógica em que a lei de mercado vale mais que a Constituição, uma lógica em que a lei de mercado vale mais que o Código Civil, uma lógica em que a lei de mercado vale mais  que o Código de Processo Civil, que o Código de Processo Penal e que o Código Penal. E, neste momento, quando isso acontece, o que está em risco é a própria democracia, e, termos entre nós pessoas da qualidade e integridade moral, da qualidade de formação técnica, jurídica, da responsabilidade de cidadão, de construtor da democracia, é imprescindível. Se Vossa Senhoria hoje Cidadão de Porto Alegre, merecidamente escolhido pelo Ver. Clóvis Brum e aceito por toda esta Casa já foi importante em todas essas etapas da vida nacional, Dr. Nereu Lima, hoje Vossa  Senhoria  é muito mais importante, porque hoje o que está em risco, na verdade, são as causas pétreas, são as bases da própria democracia.

Eu, por fim, quero dizer que uma pessoa que não conhecia por ignorância, Dr. José Távora Alfonsin, jornalista, perguntou-me quando chegava ao plenário, tive a honra de privar com ele aqui em nosso local de trabalho, se era bom ser Vereador. Num primeiro momento eu tive uma certa relutância em dizer que sim, no sentido de que a nossa tarefa aqui é muito árdua, mesmo que alguns desconheçam. Mas quero dizer ao senhor, agora, o que eu não disse: é muito bom ser Vereador quando temos a oportunidade de homenagear uma pessoa da qualidade do Dr. Nereu Lima. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra e fala pelo PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu vou fazer uma correção para que depois os autos voltem na petição inicial, Ver. Clóvis Brum. Vossa Excelência quando encaminhou a Exposição de Motivos, lá nos idos de 1992, quando honrou esta Casa como Vereador, V. Exa. referiu que o Dr. Nereu Lima é formado no curso de Ciências Jurídicas Sociais da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de cuja turma foi orador oficial. O Dr. Nereu Lima ri! Realmente, meu caro Deputado Jarbas Lima, o Dr. Nereu Lima foi escolhido orador oficial da sua turma, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no ano de 1969, e eu honro-me de ter, junto com ele, discutido, na época, como seu colega de turma, algumas linhas do seu discurso – discurso feito nas épocas difíceis do Ato Institucional nº 5. E, junto com ele, lá na Rua Luciana de Abreu, elaboramos algumas linhas, sugerimos, discutimos algumas linhas daquele importante discurso. Infelizmente, o Dr. Nereu Lima não pode fazer o discurso, porque o Paraninfo escolhido por nossa  turma era o Dr. Ney Messias, e quis o destino - a vida nos deixa situações muito duras -  levar o Professor Ney Messias, líder, figura extraordinária de professor, de amigo, antes que ele pudesse ser o orador da nossa turma já no ano de 1970. Talvez um dia, em alguma obra que o Dr. Nereu Lima escrever, eu tenho como sugestão que ele abra, quem sabe, com o discurso que ele não pode fazer como orador oficial da turma dos formando da Universidade Federal, em 1969, ano de colação de grau, 1970 - porque ele não tinha esse problema, mas nós tínhamos de esperar, e eu era um deles, a chamada 2ª época em Direito Internacional Privado, em que nós tínhamos de passar por essa cadeira e, depois, então, mais adiante, colar grau no ano seguinte. Isso se repetia ano a ano, praticamente, lá na Universidade Federal. Pois, hoje, nós estamos aqui homenageando-o e quis referir isso, usar esse discurso que tinha sido elaborado por ele para ser lido, com a coragem que é peculiar ao Dr. Nereu Lima, lá nos anos de 1969, Ver. Clóvis Brum, nos momentos difíceis da ditadura militar, sob a égide de um dos mais terríveis éditos, o Ato Institucional n.º 5, que cerceou as liberdades deste País de forma violenta, foi o marco final ali do processo terrível que nós vivemos. E o senhor, embora, em nenhum momento tenha assumido a condição de uma vida político-partidária, sempre teve um engajamento nas grandes causas, na liberdade, na luta pela liberdade, pela democracia e pelo estado de direito. E uma das nossas trincheiras era justamente a Ordem dos Advogados do Brasil, e a Seccional do Rio Grande do Sul era uma marca, era a marca de um Júlio Teixeira, era a marca de um Mariano Beck, foram nessas linhas que se forjaram os novos dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil. Sim, era muito difícil, muitas vezes, nos Parlamentos se enfrentar o processo do autoritarismo, e assim mesmo, o senhor fez. E a Ordem dos Advogados esteve presente em todos os momentos. E o Dr. Nereu foi um dos Presidentes mais jovens que essa Instituição teve, sobretudo em razão da época, e manteve, dentro de toda a sua história, uma linha de coerência. Era essa a reflexão que eu gostaria, meu caro amigo, colega, Nereu Lima, de fazer nesta tarde em que a cidade de Porto Alegre te outorga o Título de Cidadão de Porto Alegre. Depois de anos, ficamos numa pausa, num hiato, entre a concessão do Título, a sanção da Lei, a sua publicação e a Sessão Solene, e aqui foram, ambos os títulos de iniciativa do Ver. Clóvis Brum, da mesma época, outorgados, um ao Dr. Nereu Lima e outro ao Dr. Pedro Simon. Os dois tiveram papel importante e, curiosamente, em ambos os casos passou-se doze anos, Sr. Presidente, para que esta Casa outorgasse, em Sessão Solene, a láurea que hoje estamos oferecendo em nome da representação política da cidade de Porto Alegre ao advogado, e sempre, fundamentalmente, advogado. Aqui, meu caro Nereu, recordo de um discurso muito bonito, de um conterrâneo lá da sua região, Eloar Guazzelli, que dizia assim: “Sou apenas e tão-somente um advogado”, embora ele tenha exercido um mandato, por algum tempo, de Deputado Federal. E Vossa Senhoria manteve essa coerência de ser sempre e apenas, e muito, não só tão somente, um advogado, um lutador,  e,  na vida civil, um lutador em defesa do estado de direito, da democracia e da liberdade.

Por essas razões, hoje, esta Casa lhe proporciona, faz-lhe esta justa homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Nobre Vereador Isaac Ainhorn, o nosso Nereu Lima seria um excelente Vereador.

Aproveito a oportunidade para registrar a presença do Dr. Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre.

O Ver. Haroldo de Souza está com a palavra e  falará em nome do PMDB.

 

O SR. HAROLDO DE  SOUZA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Passaram por aqui os Vereadores Juarez Pinheiro, Raul Carrion, Elói Guimarães, Reginaldo Pujol - fica difícil a missão, Pedro Américo Leal -, e diviso lá a figura do grande Jarbas Lima.

Mas eis o motivo de estarmos aqui: Nereu Lima nasceu no Município de Lagoa Vermelha, neste Estado, em 28 de  janeiro de 1946 – sou mais velho que você! Respeito, Nereu! – um jovem ainda. Filho de Nicanor Marques de Lima e de Judith de Melo Lima.

O Dr. Nereu Lima é formado no curso - apesar da idade -, de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de cuja turma foi orador oficial. Brilhante orador.

Nereu Lima é professor de Direito Constitucional, de Direito Processual Penal e de Estágio Profissional na UNISINOS.

Não poderia, em nome do PMDB, estar ausente desta homenagem, porque gosto de homenagens que me identificam, Nereu. E a figura que está sendo homenageada, hoje, aqui na Câmara Municipal - Câmara Municipal que mais uma vez foi desrespeitada, no meu entendimento, horas atrás -, na Casa do Povo, onde ressoam os positivos e os negativos de uma cidade, o homenageado me identifica e por isso é gostoso estar aqui.

A cidade de Porto Alegre, ao prestar esta homenagem ao Dr. Nereu Lima, está realizando uma de suas importantes movimentações que é a de reconhecer e homenagear pessoas que fazem bem para a Cidade. Você, Nereu, faz bem para a Cidade. E você é patrimônio meu - permita, Jarbas -, patrimônio nosso, é patrimônio da cidade de Porto Alegre. Além de um caráter que ultrapassa os limites, num misto de franqueza, amizade, respeito e conhecimento daquilo que faz. O Dr. Nereu Lima é, na sua profissão, um dos mais brilhantes representantes do Direito e, ainda, um grande democrata, defensor do povo, mas com cheiro de povo. Não apenas nos parlamentos, mas cheiro de povo, caminhando com o povo, vivendo com o povo. A gente convive quase todos os dias trocando um dedo de prosa, ali, nas proximidades da Rádio Guaíba. E, por isso, Nereu, palavras que falo diretamente de coração para coração: receba, meu amigo Nereu, a homenagem proposta pelo Clóvis Brum na certeza de que hoje é um dia importante para esta Casa, pois recebe e homenageia um dos seus mais queridos filhos. Com a sua permissão e com a permissão de todos os senhores que aqui estão, ainda para completar esta minha emoção ao abraçá-lo carinhosamente, como se estivesse abraçando carinhosamente o seu grande irmão, o Sr. Jarbas Lima, que tanto conselho já me deu - um dos mais brilhantes parlamentares que este País já ouviu, viu e é um injustiçado. Jarbas Lima, como este Rio Grande, às vezes, é ingrato com seus filhos!

Nereu Lima, um beijo no seu coração, um filho do Rio Grande, um cidadão de Porto Alegre. Parabéns!  (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): É chegada a hora da outorga do Título e da Medalha de Cidadão de Porto Alegre a Nereu Lima, e diz o Título: "Por relevante serviço prestado à comunidade."

Eu tenho certeza de que ele continuará prestando muito mais serviço a esta comunidade.

Diz a Lei que a outorga do Título se faz por Sua Excelência o Sr. Prefeito Municipal ou por seu representante. Eu vou convidar o representante do Prefeito, mas também vou convidar – porque é importante viver o exemplo de quem é respeitado pela sua coletividade - o filho do nosso homenageado, Nereu Lima Filho para que venha até aqui, juntamente com o Dr. Heron Nunes Estrela - representante do Prefeito - e com o Ver. Clóvis Brum - que  propôs o Título -, que venham os três fazer a outorga do Título e da Medalha.

 

(Procede-se à entrega do Título e da Medalha.) (Palmas.)

 

Neste momento, convidamos o nosso homenageado, Dr. Nereu Lima, para fazer uso da palavra.

 

O SR. NEREU LIMA: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores.  (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Prezadíssimo amigo Ver. Raul Carrion, proponente desta Sessão Solene, e digníssimo amigo ex-Vereador Clóvis Brum, colega e amigo de todas as horas, que por bondade propôs o nosso nome, no longínquo ano de 1993, para integrar esta irmandade de cidadãos porto-alegrenses. Confesso, senhores, que já passei por momentos de grande emoção, mas talvez não tenha vivenciado uma ocasião com esta. Por uma série de fatores, uma vida que foi praticamente desnudada, desnudada apenas com as suas facetas belas como as manhãs ensolaradas, belas como o pôr-do-sol mais lindo do mundo que é o nosso querido pôr-do-sol do Guaíba. Os senhores Vereadores que aqui se sucederam na tribuna, amigos, colegas, companheiros de lutas, meus familiares, meus irmãos Jair, Jane, Jarbas, Jari, Alceu, Egeu, Léo, Alice Henriqueta, Maria Heloísa, Maria Janete e Maria do Carmo; minha esposa, Magda; meus filhos, Nereu Lima Filho e Daniela  Lima; colegas advogadas e advogados, funcionários, senhoras e senhores.

Duas frentes de batalha, por intuição, por amor, por idealismo escolhi em minha vida. Uma delas, na realização de um sonho: de ser advogado. E sendo advogado participei ativamente, de forma modesta e obscura, dos grandes momentos deste Município que me acolhe; deste Estado grandioso, que se chama Rio Grande do Sul e deste País maravilhoso, que se chama Brasil. Pensei, em várias oportunidades em que massageavam meu ego, que a carreira política poderia ser o caminho para levar avante, meus caros Vereadores, as atividades brilhantes de Vossas Excelências. Mas, bem mais maduro, achei que estava certo no caminho pelo qual havia optado. Servir a minha Pátria, servir ao meu Estado, à minha Cidade como cidadão, apenas e tão-somente como cidadão, como aquele que exerce os seus direitos civis, os seus direitos políticos.

E foi assim, Sr. Presidente, senhoras e senhores, que de repente, não mais que de repente, vejo que 25 anos de minha vida foram dedicados, desde 1978, pelas mãos de um dos mais notáveis advogados que este País já conheceu, mencionado pelo meu amigo Isaac, um homem cujo caráter para mim foi o farol luminoso no qual me inspirei - e tenho a certeza  absoluta de que falo, também, em nome do Jarbas -, que se chamava e que se chama eternamente, para mim, Eloar Guazzelli, conterrâneo de V. Exa., eminente Presidente João Antonio Dib. E foi exatamente com 15 anos, passados a partir de então, ao longo do seu último momento e do seu último suspiro de vida, que foi plasmando esse caráter de dedicação e de distinção do certo e do errado, de optar entre o justo e o injusto e de procurar acertar e de ser útil aos meus semelhantes.

Como suplente de Conselheiro da OAB, lembro, senhores e senhoras – e o Jarbas já dizia isso, e o Eloar também dizia -, utinam tacuissis, philosophos mansisses (se calado tu ficares, por sábio passarás). E era o que eu fazia, Sr. Presidente, eu era conselheiro da OAB do Rio Grande do Sul em 1978, Conselheiro Substituto, e calava, e tinha medo quando me localizavam, me identificavam e pediam que me manifestasse, porque estava ao lado de vultos maiores deste País, ao lado de alguns já citados aqui, de um Júlio Teixeira, de um Eloar Guazelli, Conselheiro, de um Mariano Beck, de um Temperano Pereira, de um Otávio Francisco Caruso da Rocha, que, aliás, meu amigo, em relação ao qual não pude realizar seu último sonho da vida, que é fazer um júri; havíamos combinado - o Tribunal do Júri então, ainda na Praça da Matriz -, que ele escolheria quem quisesse dos Constituintes que eu possuía. Faleceu logo depois, mas quis o destino que esta mesma Casa do Povo de Porto Alegre, no ano passado, me desse uma das maiores alegrias que um profissional do Direito poderia receber, que é o título Prêmio Jurídico Otávio Francisco Caruso da Rocha, que esta Casa dá com parcimônia, anualmente. Pois foi ao lado destes homens notáveis que tantas e gloriosas páginas de brilhantes serviço prestaram ao Estado e a Nação, como Parlamentares  Federais, como tribunos, como homens incansáveis que lutaram pela restauração do Estado de Direito Democrático, que havia sido ceifado após o Movimento de 1964, que nós aprendemos também a lutar em outra trincheira democrática, além da advocacia, através do magistério. E, hoje, quando encontro, aqui, dois afilhados: um, na turma para dar um referencial àqueles mais jovens, porque os mais antigos vão relembrar dele – Haroldo -, um deles, Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro, que já na maturidade da existência de jornalista famoso resolveu estudar Direito na UNISINOS. E fui, um jovem então com 28 anos de idade, Paraninfo de um turma de grandes líderes, dentre os quais aqui se encontra um deles - Luiz Felipe Magalhães – meu afilhado. E quis o destino que quatro anos depois, em 1978, uma nova safra, e de novas lideranças, fizesse com que dali brotasse um outro grande líder - Valmir Batista -, e tantos outros.

Então, na UNISINOS, quando os alunos, notáveis como esses – Mendes pai, Paulo Sant’Ana, Diniz, Valmir, Luiz Felipe e tantos outros descobriram que eu – um improvisado  professor de Direito Constitucional -, em pleno estado de exceção, dizendo o que dizia, porque confiava nas idéias que eu expunha, verificaram que o meu livro era um livro didático, de Said Maluf, Curso de Direito Constitucional. E para mim foi uma amargura atroz, inimaginável, porque, se levantava às 5 e meia da manhã, no sábado, para dar aula para esses líderes, passei a levantar mais cedo, às 3 e meia. E, mesmo assim, eles sabiam aquilo que eu poderia lhes transmitir. Foi então que numa dessas iluminações da vida, o meu amigo e colega que me levou para a UNISINOS, o João Rubens Albuquerque, o meu querido amigo Bilu, me emprestou o Tratado de La Ciencia Del Derecho Constitucional Argentino Comparado, de Segundo Linares Quintana, ocasião então em que eu pude entender um pouco melhor o que é a verdadeira democracia, quando ele dizia, sinteticamente, que não adianta dizer que um Estado, que um País é democrático; nós só podemos saber se esse país é democrático no momento em que ele preenche determinados requisitos objetivos, e enunciava que assegurasse os sagrados direitos e garantias individuais, aos quais nós associamos, hoje, os não menos sagrados e, talvez, os mais importantes direitos na mesma escala de importância: os direitos sociais e direitos econômicos.

Dizia também que deveria se caracterizar esse Estado pelo império da lei que se contrapõe ao Estado policialesco, onde manda quem pode e obedece quem necessita. Mas ainda não seria um Estado Democrático de Direito se não houvesse a partilha do Poder, porque através da fragmentação do Poder, pelo Executivo, pelo Legislativo, pelo Judiciário e pela divisão, também, do Poder na forma não apenas horizontal, mas também na forma vertical através da Federação, através da União, através dos Estados e através dos Municípios. Isso era uma espécie de vacina protetora contra o vírus da asfixia e da suplantação de um Poder pelo outro, e arrematava com aquilo que seria o complemento indispensável da democracia que é a soberania popular. Soberania popular, hoje, consagrada no texto da nossa Constituição democrática de 1988, por meio da representação das edilidades Municipais, dos Deputados Estaduais, dos Deputados Federais e dos Senadores e também da participação do povo, por meio da democracia direta e participativa.

E, por isso, com orgulho ímpar, registro que esta Casa  do Povo de Porto Alegre implantou também a Tribuna Popular, por meio da manifestação do povo de Porto Alegre, o que é um exemplo de democracia direta.

Por isso, Sr. Presidente, eminentes Vereadores, senhoras e senhores, que essa vida, essa vida tão curta e tão passageira que o próprio sono, segundo o poeta, chega a ser irmão da morte, me fez refletir muito e até cheguei a parecer sábio, quando esperei dez anos, desde 1993, para receber este título, porque eu estava no limbo, não estava nem no inferno, nem no céu, eu precisava, ainda, passar por mais algumas argüições da vida de Porto Alegre. Foi maturando o pensamento e a ação, que eu digo, hoje, eminente amigo e ex-Vereador Clóvis Brum, que V. Exa., talvez, tivesse muita paciência quando indagávamos da oportunidade. E por isso, Ver. Raul Carrion, é que esses momentos foram importantes para que houvesse essa reflexão da minha parte, para poder, hoje, me dar por inteiro a esta Cidade, que tanto amo, mas com maturidade, com uma visão de vida, com um rumo definido, sabendo o que quero e para onde vou. O que quero é a felicidade desta terra, senhores; o que quero é a felicidade da nossa gente; o que quero é um mundo que pode ser até utópico, porque a utopia é caminhar e caminhar é que nos faz lutar, caminhar, caminhar, caminhar, sonhar, sonhar, à medida que o sonho, um dia, quem sabe, se torne realidade. Tantos sonhos do passado, que pareciam utópicos, hoje, são realidade. Então, a construção dessa sociedade fraterna, igualitária, onde exista a paz, mas não a paz dos cemitérios, a paz com justiça social, a paz com pão, a paz com teto, a paz com saúde, a paz com o acesso aos bens básicos para todos e não para alguns.

É dentro dessa visão, é aurindo esse tipo de vida, de mundo, que eu rendo a minha homenagem a dois grandes responsáveis por essa visão que tive e que tivemos nós, os doze filhos. Eu me refiro a uma mulher, descrita como uma heroína, porque heroína foi, que é a nossa mãe, Judite de Melo Lima, hoje, já falecida, mas cuja vida e cuja obra foi, de forma magistral, descrita pelo Jarbas, em artigo recentemente publicado no Correio do Povo.

E também dedico, hoje, essa luta e esse galardão máximo da minha vida a este homem notável, funcionário público, com dificuldades financeiras terríveis para sustentar, de forma honesta, doze filhos pequenos, em Lagoa Vermelha. Muitas vezes, com os vencimentos atrasados por mais de três meses, aproximadamente, nos anos de 1940 a 1950. E, para complementar o orçamento familiar, fazia com que os seus filhos - já que agente do Róseo, o antigo Correio do Povo, durante 35 anos -, todos os filhos homens, os sete homens, sem nenhuma exceção, entregassem o jornal, as assinaturas do Correio do Povo - pesado aos domingos - e vendessem, por meio do setor de venda avulsa, o mesmo no Correio do Povo, na cidade de Lagoa Vermelha.

Isso, talvez, tenha-nos amadurecido antes do tempo, ou numa linguagem muito mais do campo do que da cidade, tenha-nos feito amadurecer, criados com o “focinho na tabuleta” para não amamentarmos diretamente, fazendo com que nós tivéssemos que crescer na luta antes do tempo, amadurecer antes do tempo, mas dando uma bagagem que nenhum livro pode oferecer.

Um homem, com o primário incompleto, Nicanor Marques de Lima, um dos mais inteligentes que conheci na minha vida, dizia: “Para um homem inteligente, às vezes, até um livro atrapalha.” Pois esse homem  deu o diploma universitário aos doze filhos: para os sete homens e para as cinco mulheres.

Então, Sr. Presidente, quando, com 14 anos, me formei no ginásio, no Duque de Caxias, em Lagoa Vermelha, cheguei para ele e disse: “Eu não quero mais ser jornaleiro, eu quero ser advogado, coloque-me num ônibus da UNESUL” - o qual passava por Erechim, Marcelino Ramos, e, depois retornava, Vossa Excelência lembra bem desse trajeto que passava pela cidade co-irmã de Vacaria. Senti-me como um terneiro desmamado e viajei aquelas nove horas até Porto Alegre, de UNESUL, chorando o tempo todo. Houve um momento de desistir, já que eu chorava antes de embarcar, e ele, como um homem com uma grandeza, com uma visão de mundo incomensurável, dizia: “Meu filho” - ao invés de fazer como alguns pais de xingar o filho – “se você acha que não é o momento, quem sabe no próximo ano, ou daqui a algum tempo?” Eu tinha um segundo para responder, a minha intenção emocional era de ficar e não embarcar, mas, não sei por que, nesse momento eu respondi: “E por acaso eu não tenho o direito de chorar?” Invocava o meu direito de chorar, e embarquei. E lá tinha dois sonhos, Sr. Presidente: um deles o de ser advogado e outro, confesso, o de ser ponta-direita do Sport Club Internacional. Comecei bem a carreira de jogador como juvenil do Paladino de Gravataí. Fui levado pelo Sr. Clécio para o Cruzeiro de Porto Alegre - onde minha mãe está assistindo às grande jogadas dos grandes jogadores do Cruzeiro do passado, onde ela está descansando em paz -, Sr. Presidente, e comecei já como titular da ponta-direita do juvenil do Cruzeiro, jogando com o maior juvenil que já vi no mundo inteiro, com Cavaleiro, Batista, Pontes, Enízio Matos que me marcava, lateral-esquerdo, Bráulio, Chorinho, Carlos Castro, Manuel, Darlan, Alaor, esses maestros. Era um jogo importantíssimo e oficial e não sei por que cargas d’água, ingênuo - eu era muito rápido, lépido e faceiro -, passei duas vezes, e, na terceira, não consegui passar e, acidentalmente, o ombro direito do Enízio bateu na minha boca, e eu fiquei lá a catar no gramado do Estádio da Montanha; até hoje estou catando, meus dentes superiores, que lá não estavam muito bem das pernas, realmente estavam levemente apodrecidos. Morreu o jogador e nasceu o advogado. Então, investi tudo na advocacia, Sr. Presidente, e por isso faltava-me alguma coisa para dizer que sou um homem completamente feliz: faltava-me este Título. Porque esta Cidade maravilhosa, esta Cidade que já está com quase trezentos anos, esta Câmara de Vereadores, que no dia 1º de setembro de 1773 realizava a sua primeira Sessão, no dia 6 de setembro de 1773, aqui em Porto Alegre, transferida de Viamão, esta Cidade, este povo, estes Vereadores, estes Edis - que eram os antigos magistrados romanos incumbidos de fiscalizar e de conservar os edifícios públicos -, esta Câmara Municipal, de todas as províncias brasileiras, foi a maior escola cívica dos cidadãos da sua época, porque a Câmara dos Edis existiu antes das Assembléias Legislativas dos Deputados Estaduais ao longo de todo o Império. As Assembléias somente foram surgir com o advento da República e com o rompimento com a Monarquia.

Sr. Presidente, por todas essas razões e por outras que poderia enumerar, mas não vou fazê-lo, é que, efetivamente, a esta Cidade com a qual me identifico, a ela eu devo muito, podem ter certeza, eminentes colegas Vereadoras e Vereadores, aqueles que estão aqui presentes e aqueles que nos irão assistir pela TVCâmara no fim de semana.

Sinto-me um homem realizado. Acho que a nada mais posso aspirar. Para mim, este é um dos títulos mais importantes do mundo. Ser Cidadão de uma terra à qual eu dediquei praticamente toda a minha vida, e, como disse, aqui cheguei com 15 anos de idade e, hoje, estou com 57. Quarenta e dois anos aqui vividos por todos os becos e sendo tudo aqui: jornaleiro, vendedor de pé-de-moleque, garçom por 3 horas, mensageiro de hotel, cobrador, secretário, datilógrafo e colega de um dos maiores criminalistas do Brasil, Eloar Guazzelli. Para mim, todas essas honrarias, efetivamente, ao lado da Presidência da Ordem, do magistério, esta é uma das mais importantes homenagens que recebo em minha vida.

Pode ter certeza, Sr. Presidente, de que, filho do Interior, vou procurar honrar esta terra como, até hoje, sempre procurei honrar.

Nada melhor do que definir esta Porto Alegre, antiga Porto Alegre dos Casais, de 1752, quando por aqui andou Jerônimo de Ornelas na capitania de Santana, esta Porto Alegre que eu jamais poderia definir tão bem quanto o nosso poeta maior Mário Quintana.

“Olho o mapa da cidade/ Como quem examinasse a anatomia de um corpo.../

 (E nem que fosse o meu corpo)/

 Sinto uma dor infinita/ Das ruas de Porto Alegre/ Onde jamais passarei.../

 Há tanta esquina esquisita,/ Tanta nuança de paredes,/ Há tanta moça bonita/ Nas ruas que não andei/ (E há uma rua encantada/ Que nem em sonhos sonhei...)/

 Quando eu for, um dia desses,/ Poeira ou folha levada/ No vento da madrugada,/ Serei um pouco do nada/ Invisível, delicioso/

Que faz com que o teu ar/ Pareça mais um olhar,/ Suave mistério amoroso,/ Cidade de meu andar/ (Deste já tão longo andar!)/

 E talvez de meu repouso.” Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Cidadão Nereu Lima, usando as palavras de Vossa Senhoria é que eu quero formular votos que continue caminhando, caminhando...  Sonhando, sonhando coisas boas para esta nossa querida  Porto Alegre, que de maneira tão expressiva o nosso Cidadão mostrou que ama. Formulamos votos de muito sucesso, sempre, porque o seu sucesso também será o sucesso da nossa Cidade.

Encaminhamo-nos para o encerramento, e eu agradeço a presença de todos aqueles que compuseram a Mesa. Agradeço a presença de todos e de cada um que no plenário acompanharam esta solenidade que se concluiu com tanta emoção.

Convido a todos para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h57min.)

 

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